A história é triste,
de tal forma que é capaz de ultrapassar em tristeza muitas das suas músicas. O
Vini Reilly sofreu um AVC há cerca de dois anos e a sua situação aparentemente não
melhorou. Entretanto, ao mal estar físico – que o impede de tocar guitarra –
juntou-se uma situação financeira muito difícil, que faz com que tenha deixado
de ter capacidade para sustentar as despesas. Podemos ajudar, respondendo a
este apelo do sobrinho.
Devemos-lhe todos
mais do que alguma vez seremos capazes de retribuir. Eu tenho dificuldade em
descrever a dívida que tenho para com ele, quanto mais a forma de retribuir.
O Vini Reilly
ofereceu-me várias coisas que não têm preço: a memória da adolescência, que
perdura, passada a escutar a sua voz frágil e a guitarra que abria todos os espaços
para os sonhos bucólicos; os primeiros concertos (memoráveis) na Aula Magna e
no São Luiz; o vinil do LC a rodar vezes sem fim; as pistas para descobrir o
situacionismo; o dia em que comecei a abandonar o vinil e comprei o primeiro
CD, que tenho marcado a ponto de ser capaz de recuperar todos os passos e as
palavras – o The Guitars and Other Machines, na Contraverso. Talvez seja dizer
pouco afirmar que foi com o Vini Reilly que construí a minha forma de ouvir
música.
Agora, o mais
provável é que olhemos para a sua música com uma tristeza renovada. Se bem que
essa seja a marca dominante dos seus Durutti Column, sempre entrevi neles, e na
capacidade melódica, por vezes exuberante, uma capacidade única de ofuscar toda
a tristeza. De tal forma que, ainda hoje, tenho a certeza que, quando as músicas
dos Durutti Column se entranham, nunca
mais nos podemos sentir abandonados. Talvez seja essa a principal dívida que
tenho para com ele.
Sobre a banda, Miguel
Esteves Cardoso escreveu, já lá vão trinta anos: “esta música não é uma coisa
prosaica e ingénua; não é papel-de-parede para tapar os buracos verdadeiros.
Aqui há também uma luta. O que é preciso é raspar levemente a superfície da
pintura, para encontrar a sua base de tintas negras e feias, o seu medonho inconsciente.
Não há beleza sem contraponto, nem harmonia sem contraste. E a música de Vini
Reilly é só isso.” É mesmo só isso.