"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A palhaçada do antijogo

Discute-se muito o recurso a tecnologias como forma de promover a verdade desportiva. Mas há razões para ceticismo.

Primeiro, porque o futebol sem controvérsias perderia uma parte do encanto e deixaria de ser tema de conversa durante o resto da semana; depois, basta ver programas televisivos onde se discutem ‘ad nauseam’ lances duvidosos para se perceber que a verdade é uma quimera subjetiva que nenhuma realização televisiva conseguirá desvendar; finalmente porque os recursos tecnológicos necessários a uma verdade insofismável criariam uma desigualdade difícil de gerir, entre jogos com muitas câmaras e outros com poucas.

Mas enquanto a verdade segue por caminhos sinuosos, há uma outra praga que, se impossível de ser irradiada, podia ser combatida: o antijogo. Não têm faltado exemplos recentes no campeonato português em que não se joga futebol nos últimos 15 minutos da partida. Aqui o problema não é de verdade desportiva, é a degradação de um espetáculo que é pago e que deve estar ao serviço de quem o presencia. Nada justifica a persistência da palhaçada do antijogo e há formas de a combater. Dois exemplos, que podiam ser ponderados.

Pôr fim às paragens para assistir jogadores indispostos. Tal como no râguebi, a equipa médica devia entrar em campo e ser encarada como participando no jogo. Nos últimos cinco minutos das partidas, o cronómetro devia parar sempre que a bola não estivesse em movimento, à imagem do que acontece em muitos desportos de pavilhão. Não são soluções miríficas, mas ajudariam a contrariar os incentivos perversos que hoje existem para que o antijogo compense.

publicado no Record de 6 de dezembro