Discute-se muito o recurso a tecnologias como forma de promover a verdade desportiva. Mas há razões para ceticismo.
Primeiro,
porque o futebol sem controvérsias perderia uma parte do encanto e
deixaria de ser tema de conversa durante o resto da semana; depois,
basta ver programas televisivos onde se discutem ‘ad nauseam’ lances
duvidosos para se perceber que a verdade é uma quimera subjetiva que
nenhuma realização televisiva conseguirá desvendar; finalmente porque os
recursos tecnológicos necessários a uma verdade insofismável criariam
uma desigualdade difícil de gerir, entre jogos com muitas câmaras e
outros com poucas.
Mas enquanto a verdade segue por caminhos
sinuosos, há uma outra praga que, se impossível de ser irradiada, podia
ser combatida: o antijogo. Não têm faltado exemplos recentes no
campeonato português em que não se joga futebol nos últimos 15 minutos
da partida. Aqui o problema não é de verdade desportiva, é a degradação
de um espetáculo que é pago e que deve estar ao serviço de quem o
presencia. Nada justifica a persistência da palhaçada do antijogo e há
formas de a combater. Dois exemplos, que podiam ser ponderados.
Pôr
fim às paragens para assistir jogadores indispostos. Tal como no
râguebi, a equipa médica devia entrar em campo e ser encarada como
participando no jogo. Nos últimos cinco minutos das partidas, o
cronómetro devia parar sempre que a bola não estivesse em movimento, à
imagem do que acontece em muitos desportos de pavilhão. Não são soluções
miríficas, mas ajudariam a contrariar os incentivos perversos que hoje
existem para que o antijogo compense.
publicado no Record de 6 de dezembro