quarta-feira, 31 de outubro de 2012
sábado, 27 de outubro de 2012
A refundação é apenas um eufemismo para "nós falhámos"
Se bem percebo, a história dos últimos anos pode ser contada assim: o sistema financeiro desencadeou uma crise e a culpa foi dos Estados; por sua vez a austeridade tomou conta das políticas dos Estados e a culpa passou a ser das políticas sociais. No fim, onde antes se lia "gorduras do Estado" como elo de ligação de tudo isto, hoje pode ler-se "Estado social".
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Um exercício alucinado
"(...) o Governo
elabora um orçamento que assenta num cenário macroeconómico fantasioso, em
valores para o desemprego subestimados e numa expectativa para a receita
inflacionada. A fórmula vai falhar e não estamos perante uma repetição do
otimismo irrealista que caracterizou a política orçamental do passado recente, já
entrámos no domínio da relação alucinada com a realidade.
Ninguém
no seu perfeito juízo pode acreditar que uma austeridade sem paralelo provocará
uma recessão de 1% do PIB e trará apenas mais 80 mil desempregados. Aliás,
basta utilizar a nova versão dos multiplicadores orçamentais do FMI para se
perceber que o impacto negativo na economia variará entre os 3 e os 5%,
produzindo um efeito devastador no mercado de trabalho.
O
Ministro Vítor Gaspar falou esta semana num “conjunto de incertezas” que ameaça
a execução orçamental. Infelizmente estamos perante um conjunto de certezas: o
orçamento não tem credibilidade, tem uma componente de alucinação, é
incumprível e empurrará o país para uma espiral recessiva.
Se é assim, e a menos que a insanidade tenha tomado conta do Conselho de Ministros (hipótese que não deve ser descartada à partida), esta “estratégia” serve exatamente para quê? Para ganhar tempo? Talvez não fosse despiciendo que alguém no Governo ensaiasse uma resposta à questão. Se tal não for feito, o Governo, que agora se encontra moribundo, cairá às mãos do boletim de execução orçamental do 1º trimestre.
Se é assim, e a menos que a insanidade tenha tomado conta do Conselho de Ministros (hipótese que não deve ser descartada à partida), esta “estratégia” serve exatamente para quê? Para ganhar tempo? Talvez não fosse despiciendo que alguém no Governo ensaiasse uma resposta à questão. Se tal não for feito, o Governo, que agora se encontra moribundo, cairá às mãos do boletim de execução orçamental do 1º trimestre.
o resto do meu artigo do Expresso de 20 de Outubro está aqui.
Coisas que nos fazem falta: compaixão, empatia
"What I find most deeply moving in Caravaggio's paintings is (...) his pervasive compassionate empathy. I don’t just mean his ability to depict compassion, as he does on the face of the early angel supporting Saint Francis in ecstasy or, more subtly and more tenuously, on the late face of David staring at the head of Goliath in the Galleria Borghese. What I’m referring to is Caravaggio’s truly extraordinary ability to imagine sympathetically what it must be like to be another person, saint or sinner, woman or child, knight or jailer, usually in circumstances he could never himself have known."
Daqui.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
A terapia das cabeçadas na parede
"Imagine que tem uma enxaqueca bastante intensa, consulta um economista e este dá-lhe uma conselho: “bata com a cabeça na parede”. Obedientemente, dirige-se a um muro que encontra ao virar da esquina e é isso que faz. Não apenas vai sentir dores como a enxaqueca tenderá a intensificar-se. Ainda assim, porque confia no seu conselheiro, regressa para mais uma consulta. O economista amigo, depois de olhar para uma folha de excel, conclui que o problema é seu – não bateu com a cabeça com a intensidade adequada (ou seja, colocou pouco empenho na terapia) – e aconselha-o a insistir no tratamento, mas desta feita com mais vigor: tem de bater com a cabeça na parede com toda a força que for capaz. Chegados aqui, talvez convenha não ser economista para antecipar os resultados. Começará a sangrar da testa, a enxaqueca tornar-se-á insuportável e, caso tenha sido cumpridor, até o muro pode ter ficado ligeiramente danificado. É assim que o economista Bill Mitchell, no seu blog, resume as intervenções seguidas pelo FMI nos últimos anos. Hoje, já não é preciso ser grego para se estar familiarizado com a terapia das “cabeçadas na parede”. (...)"
a versão integral do meu artigo do Expresso de 13 de Outubro pode ser lida aqui.
Memória do futuro
"(...) Ao suprimir os feriados do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro, o Governo
revela um misto de leviandade e irresponsabilidade, sugerindo, uma vez mais,
que está convicto de que tudo é reconstruível a partir da vontade política do
momento, num experimentalismo que só pode correr mal. Mal ou bem, hoje com uma
distância simbólica crescente, os feriados que celebram o regime e a
independência são uma forma de sincronizar o nosso passado colectivo com o
presente, construindo uma memória coletiva, que é um requisito para existirmos
como nação no futuro.
Convém, contudo, não desvalorizar que o fim da celebração da
República tem também um efeito de ocultação do que é, ou deveria ser, o chão
comum em que assenta o nosso regime e a nossa comunidade. A República, por um
lado, como representação pluralista e livre dos cidadãos, e quadro
institucional no qual se constrói a nação; por outro, como regime onde
prevalece o primado da política como resposta à questão económica e social e
não o contrário.
Esta crise tem sido, de facto, uma oportunidade para brincar com o
fogo, e como descobriremos, infelizmente, à degradação económica e social
seguir-se-á a decadência política e institucional, num contexto em que os laços
que nos uniram foram sendo paulatinamente destruídos. Se não nos celebramos
como comunidade política independente, corremos o risco de o deixar de ser."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 5 de Outubro pode ser lida aqui.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
para ouvir, hoje, na Zona de Conforto.
Yet Again 5:18 Grizzly
Bear Shields
Priest With Balloons 4:05 Tiny
Ruins Some Were Meant For Sea
Hey Daydreamer 3:24 Neil
Halstead Palindrome Hunches
Jesus, Etc. 4:18 Bill
Fay Life Is People
Cloudy Shoes 4:09 Damien
Jurado Saint Bartlett
Where Are You Now 4:50 Dylan
LeBlanc Cast The Same Old
Shadow
Falcon 2:55 minta
& the brook trout Olympia
Dance For You 3:24 Dirty
Projectors Swing Lo Magellan
Please Don't Let Me
Be Misunderstood 4:10 Me'Shell Ndegéocello Pour une âme souveraine
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
the light color in the room
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Carta que enviei hoje ao Público
Como
assinante e leitor diário do Público, foi com surpresa que li na edição de terça-feira,
dia 9 de Outubro, uma peça de página dupla, publicada surpreendentemente na
secção Portugal, a propósito de um livro que se propõe “ensinar a fazer o curso
na maior”. Imagino que nas redes sociais e nas conversas entre alunos circulem
muitas dicas sobre como ter notas sem estudar ou contornando o trabalho que é
exigível a quem frequenta o ensino superior; admito, naturalmente, que haja
também quem queira beneficiar comercialmente com a divulgação dessas
estratégias (publicam-se tantos livros tontos, por que razão não se há-de
publicar mais um). O que me espanta é que o Público dê destaque em, repito,
duas páginas a um conjunto de imbecilidades e ideias estapafúrdias sobre o que
é (ou deve ser) estudar e, pior, as consequências para a vida social de se
estudar. Nem falo da ideia peregrina referida na peça de que, cito, “o
objectivo num curso é fazer as cadeiras. E isso não é sinónimo de acumular conhecimento.” Tendo em conta que, a crer na
notícia, um dos autores do livro é professor na Universidade Lusófona,
percebe-se a afirmação. Se a universidade não é um local de cultura de
exigência e de trabalho, perde a sua função. E como estamos necessitados, em
Portugal, de instituições que se movam pela exigência, trabalho e rigor (e como
é necessário que nas universidade se combata o facilitismo e a sua versão
extrema, o plágio). Mas, talvez o mais chocante da notícia é a dicotomia completamente
disparatada que é estabelecida entre “pessoa normal” e “malta que não fez isto [curtir
a vida enquanto estudava] e que acha que os alunos também não o devem fazer.
Foram ‘cromos’, tecnocratas, académicos.” Não sei em que mundo vivem os autores
do estudo ou que percurso académico tiveram, mas posso dar um sem número de
exemplos de bons alunos de ontem e também de hoje que não encaixam no perfil
definido - o que não os impediu de alcançar um patamar de excelência na vida
académica e profissional. Como os autores afirmam, “é nesta idade que
estabelecemos uma rede de contactos, fazemos amigos para a vida. E esses amigos
e contactos serão fulcrais no nosso futuro pessoal e profissional.”
Aparentemente, os autores do livro não só conheceram e conhecem pessoas que são
exemplos errados como se esqueceram de dizer que é também “nesta idade”, quando
somos estudantes universitários, que temos a melhor oportunidade da nossa vida
para “acumular conhecimento”. Um saber que será fundamental para a nossa vida,
onde a capacidade relacional não é tudo. Tenho dificuldade em perceber como é
que um jornal de referência, que é uma referência diária para mim, e que deve
ser também um exemplo de rigor e exigência, publica um artigo como este.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Um ar irrespirável
"(...) Um
titular do cargo de ministro da Justiça zela pela garantia de coisas
elementares num Estado de direito, à cabeça de todas, a presunção de inocência,
e não pode nunca pactuar com condenações baseadas em percepções públicas sobre
corrupção, alimentadas por uma comunicação social que cavalga a insatisfação
social. Quando tudo parece ruir, a última coisa de que precisávamos era de
políticos que buscam a sua salvação pessoal na exploração dos sentimentos mais
negativos sobre a classe a que pertencem, ultrapassando levianamente a
fronteira que separa a barbárie da civilização e do Estado de direito. Até
prova em contrário, os políticos são todos corruptos, é-nos sugerido
diariamente; no fundo, Paula Teixeira da Cruz, ao afirmar que acabou o tempo da
impunidade (para bom entendedor, o tempo em que a corrupção não era punida),
vem confirmá-lo."
o resto do meu artigo do Expresso de 29 de Setembro pode ser lido aqui.
o resto do meu artigo do Expresso de 29 de Setembro pode ser lido aqui.
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