"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

O poder na rua

"(...) O primeiro-ministro estabeleceu uma relação com os portugueses sem distância e onde os mecanismos de mediação no exercício do poder foram aliviados. Não se deu ao respeito e, à primeira oportunidade, os portugueses responderam-lhe no mesmo tom. Procurou fazer assentar a sua legitimidade numa popularidade assente na rua, numa relação “tu cá, tu lá” com os portugueses, apresentando-se como o homem banal que nunca pode ser enquanto é primeiro-ministro e o país respondeu-lhe na mesma moeda. Perante um justificado descontentamento, os portugueses saíram em massa à rua, ao mesmo tempo que perdiam o respeito de forma irreversível ao chefe do Governo. Pelo caminho, acentuou-se a degradação institucional, que segue a um ritmo imparável.
Chegados a este ponto, quando a situação económica se deteriora e o Governo está preso nas armadilhas que colocou a si mesmo (à cabeça, a ideia peregrina de “ir além da Troika”), todos os cenários apontam para o fim político da coligação Passos/Portas: se o Governo inverter a trajetória, empurrado pela pressão da rua, são dados incentivos objectivos para que a contestação social cresça; se tudo continuar na mesma, o descontentamento continuará a crescer.
É-nos dito, com razão, que a democracia radica numa legitimidade formal e não pode cair na rua. O drama é precisamente esse: o primeiro-ministro foi à procura da rua e, no Sábado passado, esta regressou a galope. Agora, já nada há a fazer. É apenas uma questão de tempo. No fundo, “a rua” sabe que este governo acabou, só não sabe quando é que vai ser removido."
o resto do meu artigo do Expresso de 22 de Setembro pode ser lido aqui.