"É preciso que
alguma coisa mude para que tudo fique na mesma".
Mesmo que muito glosado, este velho adágio, que o escritor italiano Giuseppe
Tomasi di Lampedusa atribuiu a Don Fabrizio, príncipe de Salina, não perdeu
acuidade. Perante os ventos da mudança, a inteligência do “Leopardo”
permitia-lhe focar-se no essencial, preservando a sua forma de vida.
Talvez seja também esta a
melhor metáfora para o Benfica-Porto de ontem: foi necessário que alguma coisa
mudasse (mais uma jornada de campeonato, com o Benfica a manter uma distância
de segurança face ao Porto), para que tudo ficasse na mesma (o título será
decidido num sprint final, após uma longa maratona). Já o Benfica teve a
inteligência de focar-se no essencial – não perder pontos para o rival.
De resto, o jogo foi um
reflexo das debilidades e das forças das duas melhores equipas portuguesas.
Enquanto o Porto tem uma ótimo plantel, com muitas soluções, mas um jogo
coletivo com fragilidades e perturbado pelas alterações sistemáticas no onze
titular; o Benfica vive de uma ideia de jogo consolidada ao longo de 6
temporadas com Jorge Jesus, em que a organização coletiva, em particular nos
momentos defensivos, torna possível que até o “Manel” brilhe (por exemplo, foi notável
a exibição de Jardel, transformado num verdadeiro Garay).
Como acontece em muitos
jogos decisivos, o que a partida teve em intensidade, faltou-lhe em qualidade
nos momentos ofensivos. Nem Júlio César, nem Helton fizeram defesas dignas de
nota e quer Benfica, quer Porto estiveram bem melhor a defender do que a
atacar.
Numa altura em que o
campeonato se aproxima da reta da meta, o Benfica leva vantagem no confronto
direto, parece estar melhor fisicamente e reforçou a sua confiança anímica. Com
o embalo que leva, só um enorme percalço permitirá que o Benfica se deixe
ultrapassar no sprint final.