Não passa uma semana sem que se ouçam queixas sobre o
ambiente desolador no qual se disputa a maior parte das partidas da 1.ª
Liga. Estádios às moscas, com assistências que ajudam a nivelar por
baixo o campeonato. Pois então experimentem ir a um jogo, fora de um
estádio dos três grandes, e talvez se perceba melhor a razão deste
cenário deprimente. Não e não falo da falta de qualidade de muitos
jogos.
Este fim-de-semana, fiz parte da maré
vermelha que invadiu a superior norte do Restelo e posso testemunhar a
vergonha que foram as condições de acesso e no interior do estádio.
Há
uma semana que era previsível uma enchente de benfiquistas, em
particular naquela zona do estádio. Pouco importa: a entrada foi
preparada em termos completamente desadequados. Duas horas antes do
início da partida, já se formava uma longa fila de acesso, que ninguém
cuidou de organizar. O acesso decorria a passo de caracol, por uma única
porta. Com o aproximar da hora do jogo, tudo se tornou mais caótico,
para culminar num enorme aperto na estreita porta. A crer no ritmo de
entrada de adeptos após o apito do árbitro, a entrada deve ter sido
flexibilizada. Que 25 anos depois de Hillsborough coisas destas se
passem num estádio europeu, é difícil de compreender. Esqueçam a ideia
que o futebol deve também ser um espetáculo para a família, levar
crianças para ali, nem pensar. Lá dentro, as casas de banho não
funcionavam e as cadeiras, ressequidas ao sol, partiam-se ao primeiro
encosto.
Não sei de quem é a culpa, mas minha
e dos outros milhares de adeptos que pagaram bilhete não é certamente. É
preciso ter muita vontade de acompanhar um jogo do clube do coração
para pagar para assistir a um espetáculo naquelas condições. No fim,
fica-se com a sensação de que se está à espera que uma tragédia ocorra
para que depois se gere um movimento de comoção nacional, seguido de
apuramento de responsabilidades.
publicado no Record de ontem
P.S.
o João Gonçalves escreve sobre o mesmo tema aqui.