"O que há num simples nome?", questionava-se
Julieta, no drama de Shakespeare. A pergunta é-nos devolvida todos os
dias e regressou em força na ressaca do Benfica-Porto. Custa a crer,
mas, de acordo com os relatos, é mesmo verdade: a altercação entre Jesus
e, vamos lá ter cuidado a grafar, Lo-pe-te-gui não se deveu ao calor da
luta, mas ao basco ter ficado enxofrado com as constantes trocas do seu
apelido pelo treinador do Benfica.
A coisa
parece ter contornos de drama shakespeariano, e pode bem ter. Diria que
estamos perante o derradeiro sinal da soberba com que o técnico do Porto
encarou a sua passagem por Portugal, e que o faz acumular falhanços
atrás de falhanços, aproximando-o da queda.
Podia
encher esta coluna com "variações Jesus" de nomes e apelidos. A tarefa
era fácil. Das últimas semanas, e fazendo um exercício de memória,
recordo-me do "Wiliams", do "Ola Jonas", do Jonathan rebatizado de
"Xavier" e, claro está, do magnífico "Lotopegui" (a coisa é de tal
forma, que hoje tenho dificuldade em acertar com o nome do basco).
Jorge
Jesus pode ter muitos defeitos, mas qualquer pessoa com um módico de
sensatez percebe que as trocas de nomes, se nos dizem alguma coisa sobre
o técnico do Benfica, é que estamos perante alguém autêntico, que não
procura ser quem não é. Não por acaso, numa atitude tão pouco comum em
Portugal, Jesus não perde uma oportunidade de nos recordar as suas
origens e fá-lo com honra. Só lhe fica bem.
Que
Lopetegui não tenha percebido isso e tenha tomado por gozo o que está,
aliás, mais próximo da autoironia, é um sintoma da mesma atitude que o
levou a ficar convencido que teria uma tarefa fácil no Porto e a
desvalorizar o nosso campeonato, as competências tácticas dos
treinadores portugueses e a organização defensiva a que se agarram os
clubes pequenos. Os resultados da soberba estão à vista.
publicado hoje no Record