"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

terça-feira, 14 de abril de 2009

Uma questão de sombras

Há naturalmente aspectos positivos na escolha de Paulo Rangel para cabeça de lista do PSD ao Parlamento Europeu. Desde logo, assegura que na campanha para as europeias se projecta a disputa política doméstica, na qual Rangel tem sido a face visível do combate parlamentar com o primeiro-ministro. Para quem está na oposição, não há volta a dar, eleições de segunda ordem, como as europeias, são, no essencial, momentos para discutir política nacional. É mau que assim seja, mas é da vida. Depois, a partir do momento que o PS apresentou Vital Moreira, o PSD precisava de um candidato com densidade política para lhe fazer frente. Pese embora o estilo desajustado que frequentemente adopta no Parlamento, Rangel não é um político do “circuito da carne assada”.
O problema da escolha de Rangel é que esta perpetua o principal problema da liderança de Ferreira Leite.
Convém não esquecer, Ferreira Leite foi eleita com pouco mais de um terço dos votos dos militantes do PSD e, depois de um congresso completamente falhado, nunca foi capaz de fazer o que uma líder nas suas circunstâncias precisa. Afirmar-se, também unindo o partido. O que temos sistematicamente assistido é um processo contrário. Por um lado, com a excepção de Rangel, Ferreira Leite não tem conseguido promover novos protagonistas e, por outro, tem sido invariavelmente incapaz de alargar a sua base de apoio interna.
A escolha de Rangel, ao mesmo tempo que desloca de um palco relevante o único novo protagonista que se conseguiu afirmar, entrincheira Ferreira Leite no seu núcleo duro de apoiantes. Se ao medo das sombras – característica dos líderes fracos – somarmos todos os outros problemas que Ferreira Leite tem revelado (a gestão do timing de escolha do cabeça de lista ao PE foi o último de um longo rol de exemplos. É espantoso escolher o exacto dia em que foram conhecidas as estimativas de primavera do banco de portugal), talvez se perceba melhor as razões porque, mesmo num contexto de crise económica e social e de descontentamento com o governo, o PSD não consegue capitalizar eleitoralmente.