A diferença entre as intenções de voto no BE nas sondagens e o resultado das últimas legislativas é, hoje, suficiente para impedir o PS de repetir a maioria absoluta. Contudo, bastaria que aqueles que votaram no PS e que agora se mostram inclinados a votar BE, repetissem o voto, para que o PS voltasse a ter uma maioria absoluta. O objectivo não é tão difícil de concretizar como parece.
Antes de mais, porque o eleitorado do BE é o menos consolidado de todos os partidos. Não apenas porque tradicionalmente os potenciais eleitores bloquistas revelam grande propensão para a abstenção, mas, também, porque são eleitores que nunca votaram BE.
Este facto, aliás, serve para consolidar um paradoxo. Enquanto entre a direcção do PS e do BE há, relativamente a políticas centrais, diferenças inegociáveis, as diferenças de posicionamento político entre os eleitores flutuantes dos dois partidos são bem menores.
Face a este cenário, o BE escolheu o Governo como principal (e único) adversário político e o PS tem apontado artilharia pesada ao BE. O problema é que este jogo de ataques mútuos tem tido como consequência empurrar para o BE os eleitores oscilantes entre os dois partidos.
Mas, por si só, a aproximação das eleições contraria qualquer estratégia política. O inevitável crescimento do PSD – feito no essencial à custa da descida do CDS – traz de novo uma questão que pairará como um espectro sobre os eleitores de esquerda: preferem um Governo de Ferreira Leite ou um novo Governo de Sócrates? Como o BE não tem resposta para esta questão e mostra-se indisponível para fazer parte da solução de governabilidade após as legislativas, é natural que muitos dos que hoje manifestam o seu protesto através do BE, se mostrem de novo disponíveis para votar, de modo útil, a favor da governabilidade à esquerda.
comentário à relação entre PS e BE quando se aproximam as eleições, publicado hoje no Diário Económico.