"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

terça-feira, 26 de maio de 2009

O espelho do BPN

Seis meses passados, é evidente que os trabalhos da comissão se têm centrado na gestão do BPN e têm servido para revelar que a realidade do funcionamento do banco ultrapassava as mais delirantes suposições. Contabilidade paralela, balcões virtuais, ilegalidade puras, negócios ruinosos, desconhecimento pelos accionistas do que era feito na gestão, temos ouvido descrições de tudo. Essencialmente, tem sido espantosa a candura com que alguns dos depoentes descrevem o seu papel em todo o processo. Sobre muitos dos que têm ido depor, fica, até agora, uma dúvida: ou estamos perante campeões da ingenuidade ou vigaristas encartados. Ao contrário do que eu esperava, se bem que se tenha desviado do que era o seu propósito inicial, a comissão de inquérito tem sido muito útil na revelação do caos que imperava no BPN. No entanto, o sucesso da comissão de inquérito ao BPN, apesar de exemplar das virtudes do parlamentarismo, não é motivo para satisfação. Pelo contrário, ele revela, uma vez mais, o falhanço do sistema de Justiça em Portugal.

A menos que algo de surpreendente se esteja a passar na discrição da investigação (algo improvável tendo em conta o tratamento de que é alvo o segredo de justiça entre nós), há sinais de que, em seis meses, se progrediu mais numa comissão de inquérito do que no processo que decorre na Justiça. Agora, o mínimo que se pode esperar é que a Justiça seja capaz de aproveitar o trabalho parlamentar e produzir prova a partir dos factos relatados na comissão.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.