"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Se Portugal fosse um país a sério

A polémica a propósito do “apagão” no IEFP ameaça tornar-se num ‘case study’ do estado delirante a que chegou a disputa política em Portugal. Uma visão mais benévola poderá justificar toda esta discussão com o aproximar de três actos eleitorais, que encontraram na subida do desemprego um contexto adequado. Não me parece razão suficiente. As razões são outras e o episódio serve para demonstrar que a política portuguesa deixou de ser discutida assentando em critérios mínimos de racionalidade.
Tudo terá começado com uma notícia no DN. O que se escrevia era que teria havido um corte de 15 mil desempregados nos ficheiros do IEFP. Depois, e se bem me recordo, no corpo da mesma notícia, acrescentava-se que esse corte resultava de um erro de cruzamento entre os registos de contribuições para a segurança social (que se reportavam a Fevereiro de 2008) e o desemprego registado (que se reportava a Fevereiro de 2009). Ou seja, um cruzamento positivo, que não tem muitos anos e permite que alguém que está a trabalhar e não comunique ao IEFP, deixe de contar como desempregado, teria sido feito indevidamente. Acontece que, e pasme-se, esse erro foi detectado e os dados do desemprego registado foram corrigidos antes da sua publicação. Ou seja, a notícia é que houve um erro e ele foi corrigido internamente, antes de os dados serem públicos.
Eu sei que era preciso fazer um esforço de leitura, mas ler é uma coisa que dá trabalho e como o desemprego está a crescer, o melhor é não deixar que a verdade dos factos estrague uma boa história. A boa história é comentar uma notícia inicial sem demonstrar qualquer preocupação em lê-la e percebê-la. Depois, como o delírio não tem paragem, os partidos rapidamente se apressaram a pedir auditorias externas (certamente para tentar perceber como é que uma instituição pública consegue detectar internamente um erro antes que ele fosse público) e pedidos de demissão do presidente do IEFP (aliás, gostava de saber se o pedido feito pelo PSD é subscrito pela Drª Ferreira Leite ou se foi um entusiasmo parlamentar).
De facto, se Portugal fosse um país a sério.