"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sábado, 23 de maio de 2009

Quique fica

Quique falhou este ano. Falhou nas hesitações constantes quanto às posições de vários jogadores, na incapacidade de encontrar uma forma de conciliar Suazo e Cardoso, nas sugestões para contratações (Balboa foi uma invenção sua), mas, acima de tudo, na definição de um modelo táctico que apostava na contenção, num meio-campo consistente, mas pouco ou nada dinâmico, e que parecia pensado para o contra-ataque. Não por acaso, o Benfica não perdeu com o Porto, ganhou duas vezes ao Sporting e outras duas ao Braga. O problema foram mesmo os jogos com as equipas do fundo da tabela. Não é possível ter uma boa classificação com o Benfica e perder sete pontos com os dois últimos classificados. O afastamento de Diamantino e Chalana não foi certamente um bom contributo para ajudar o espanhol a conhecer melhor as equipas portuguesas e a perceber que o contra-ataque não serve para o Benfica para além de dois ou três jogos por temporada. Mas, este ano, como nos anteriores, o treinador foi o menor dos problemas do Benfica. Com uma gestão desportiva adequada, o mais provável era que Quique Flores tivesse tido outra sorte. A sorte que teve, por exemplo, Trap.
Mas como no Benfica é difícil aprender, está em curso uma tentativa de repetir os erros no passado. Criar a ilusão de que se resolve tudo com uma substituição de treinador. Quando o que era preciso era estabilidade no plantel (contrariando a sangria anual, que, no defeso, leva todos os anos os dois melhores da época anterior) e na equipa técnica, o Benfica vai substituir Quique, tudo aponta, pelo "mestre da táctica" Jorge Jesus.
Deixemos de lado a fama que acompanha Jesus no submundo das contratações ou a relação muito peculiar que o técnico bracarense tem com a expressão oral em português (o que convenhamos não é uma qualidade irrelevante para quem treina o Benfica), basta recordarmos o seu curriculum (do Felgueiras ao Moreirense, passando pelo Setúbal). Nem é preciso olhar muito para trás, veja-se o que se passou com o Braga esta temporada. Com um plantel que, no mínimo, compete com o do Sporting, o Braga prepara-se para ficar atrás do Nacional da Madeira e, durante grande parte da temporada, os arsenalistas perderam sistematicamente pontos com equipas com muito menos condições. Enquanto uma nova temporada de Quique seria um sinal de que o Benfica, por uma vez, valorizava a estabilidade e a capacidade de aprender com os erros, com Jesus, volta a aposta numa incógnita, que tem tudo para correr mal, e será certamente acompanhada de duas mãos cheias de contratações, feitas ao gosto do novo treinador. A coisa é de tal modo, que já se fala de um regresso do marcante Tixier ao futebol português para acompanhar Jesus.
Na verdade, talvez seja altura do Benfica, em lugar de mudar de treinador, mudar de Presidente. Até porque há um candidato natural ao lugar: Rui Costa que poderia ser bem acompanhado por José Veiga.